sábado, 18 de fevereiro de 2017

Jogos Zeldásticos #5 - Dark Souls (PS3/Xbox360/PC)

Vamos falar de dificuldade, bem rápido. Apesar de ser um tópico de difícil discussão, devido à toda a questão subjetiva, creio que é unânime o fato de que a dificuldade deve ser algo bem balanceado. Assim como em testes, a dificuldade é determinada de acordo com o nível de habilidade, no caso de um videogame, do jogador, sem jamais atirar algo que não foi apresentado anteriormente (o que seria a chamada "dificuldade baixa"; "Bullshit hard", como diriam aqueles de língua inglesa).
Por conta desse conceito que acabo de apresentar (que tem grande validade pelo menos para mim), ao ser perguntado sobre algum jogo difícil que eu tenha em mente, gosto de mencionar títulos como Zelda II, Donkey Kong Country (a série inteira, nesse caso), Castlevania (I e III), e alguns outros; todos esses sendo títulos que atiram desafios diversos ao jogador de maneira que ele ou ela se adapte e se prepare apropriadamente.
Jogos cuja dificuldade foi aumentada de maneira proposital para, digamos, obrigar as pessoas a não terminar o jogo no mesmo fim de semana, não contam para mim.

Nos dias de hoje, é inegável que o número de jogos difíceis, ao menos vindo das grandes empresas, não é tão grande quanto já foi. Mesmo assim, não é incomum ouvir falar de algum título que requeira paciência e dedicação de seus jogadores para que possa ser jogado e apreciado.
Admito que não sei bem quais nomes se encaixam nisso, ainda mais considerando o quão pouco joguei títulos dos últimos dez anos que não tinham "Nintendo" na caixa. Dito isso, há uma série que entrou em meu radar praticamente desde o seu primeiro... errr... "primeiro" título.



Dark Souls ganhou uma reputação relativamente infame desde o seu lançamento original em 2011. Conhecido por uma "dificuldade brutal" e uma direção artística inacreditável, o jogo logo ganhou uma grande legião de fãs e, desde então, gerou uma franquia rentável e digna de atenção.
Por conta do grande auê que foi o jogo em sua época de lançamento, bem recebido tanto por jogadores quanto pela crítica, é óbvio que ele logo se meteu em meu radar como algo digno de atenção. No entanto, ao ouvir falar da tal dificuldade, logo acreditei que se tratava de um jogo que tentava ser difícil somente por ser difícil, o que, para mim, é um pecado quase que capital.

Foi somente quando assisti o vídeo de Jirard "Dragonrider" Khalil, o The Completionist, que muitos outros elementos do jogo, como sua trama misteriosa, trilha sonora e direção de arte, finalmente me convenceram de dar uma chance... E essa chance não chegou até ano passado.

Eu poderia sair dizendo mais e mais sobre minha experiência como um todo, mas, eu sei que vocês não vieram aqui me ver falando sobre isso. Falemos, então, de Dark Souls.

Caso você não saiba, Dark Souls é um RPG de ação, desenvolvido pela desenvolvedora adoravelmente chamada From Software, e publicado pela amável Namco Bandai. No jogo, assim como tantos outros RPG's modernos, você cria um personagem, escolhe a classe de combate que ele irá seguir, e é atirado em um novo mundo, sua principal missão sendo eliminar todos os monstros que você encontrar, conseguir pontos de experiência e aumentar de nível, para que possa fazer isso tudo de novo até os créditos subirem.

Diferentemente de tantos outros RPG's modernos, Dark Souls não tenta prender o jogador logo de cara com uma história muito elaborada. Apesar de existir uma longa cena introdutória, esta serve mais para dar o contexto em que o mundo se encontra, sendo, basicamente, a única cena que você irá encontrar pelo resto do jogo. Apesar dos diálogos eventuais, parte considerável da trama de Dark Souls acontece via sutileza e implicação, ao invés de algo dito na sua cara.
Pode-se dizer que o jogo tenta ganhar o jogador com intriga e mistério, ao invés de um propósito claro.. Sem dúvidas, esse é um caminho perigoso de se seguir, ainda mais no que seria um RPG, mas, a forma que Dark Souls encontra de relatar o que ocorre, ou ocorreu, em seu mundo é mais do que satisfatória.

Os elementos escolhidos para contar história são ainda mais fáceis de apreciar frente à maneira como o mundo é retratado: sombrio, morto, deliciosamente macabro. Cada lugar que o jogador visita parece estar em estado de ruína; quando não isso, existe uma atmosfera opressora no ar, como se algo estivesse terrivelmente errado. Desde grandes cidadelas a florestas, cavernas, até pântanos, todo o mundo é assim e, por conta disso, o jogador por vezes se pergunta se está jogando um RPG de terror.
A natureza dos lugares encontrados juntada às características antes mencionadas faz uma grande mistura de emoções cercar o jogador, o medo sendo prevalente, não só pelo que o jogador vê, mas, também, pelo que ele ouve.



As músicas em Dark Souls são como raras especiarias, bem guardadas para encontros que exigem o constante alerta e cuidado, leia-se, os chefes. Durante boa parte do jogo, o silêncio musical lhe fará companhia, permitindo-lhe ouvir os grunhidos, gemidos e rosnados dos monstros que habitam esse mundo arruinado.
Apesar de não parecer algo muito interessante, ainda mais considerando que todos nós aqui estamos acostumados com Zelda, onde a música é um elemento constante, a ausência de música em Dark Souls praticamente define o tom de toda a experiência. Não há música para definir os lugares, nem as batalhas, quem faz isso são os inimigos do jogo e, acredite, ao final de cada partida, eles deixarão a sua marca em você.

Isso finalmente nos leva à jogabilidade de Dark Souls e, surpreendentemente, ela é menos hostil do que você foi levado a pensar. Os controles do jogo são... pesados, digamos assim. Cada movimento feito pelo seu personagem sofre com um pequeno atraso de resposta, dando uma sensação de realismo ao que seu personagem é capaz de fazer. Ao mesmo tempo, cada pedaço de equipamento adquirido durante a sua jornada tem um peso próprio, aderindo à ideia de realismo preestabelecida.

Como você já deve ter deduzido, o jogo tem um grande número de equipamentos disponíveis para uso: armas de diversas formas e tamanhos, armaduras leves, médias e pesadas, além de alguns outros acessórios, como os anéis; além disso, se você utilizar uma classe que usa mágica, irá colecionar várias delas também. No entanto, por se tratar de um RPG (e um bem tradicional neste ponto), Dark Souls não vai simplesmente deixar que você vista aquilo que achar. Para que você possa equipar certos itens, é preciso que os status de seu personagem estejam a par daquilo que você quer usar; caso contrário, haverão consequências que prejudicarão até mesmo o mais teimoso dos jogadores.

Armaduras pesadas demais impedem movimentos mais rápidos, e armas pesadas demais não podem ser usadas efetivamente.


Para melhorar seus status, é necessário gastar o equivalente de pontos de experiência do jogo, souls, que podem ser adquiridas de várias formas, como derrotando inimigos e achando-as em baús. As souls também funcionam como dinheiro, o que significa que você também vai utilizá-las para comprar tanto equipamentos quanto itens em geral para que você possa sobreviver.

Conseguir itens e equipamentos úteis é essencial neste jogo, e creio que você já tenha noção de pelo menos um dos motivos.
Casada a todos os pontos sombrios do jogo está a brutalidade dos inimigos. Desde o oponente mais fraco, todos os inimigos de Dark Souls são uma grande ameaça em potencial, seja porque eles tem ataques devastadores, sejam porque são bem mais rápidos do que você, ou, pior ainda, seja porque eles andam em números.
Cada batalha em Dark Souls tem um efeito pouco agradável no jogador, não por causa da alta força que os inimigos podem ter, mas por conta da necessidade de se calcular cada movimento com cuidado. É preciso ter estratégia, atacar cuidadosamente e (curiosamente, algo que costumo dizer muito em meus próprios guias para Zelda) priorizar a defesa acima de tudo.
É graças a esse ritmo bem mais lento das batalhas que Dark Souls é considerado "difícil" por muitos. Para um jogador impaciente, acostumado a atirar primeiro e a perguntar nunca, certamente haverá grande dificuldade em lidar até mesmo com o menor dos desafios. No entanto, um jogador mais calmo, que sabe se aproximar de cada detalhe com a maior cautela de todas, Dark Souls não será tão difícil quanto ele ouviu tanto falar.
Mas, dito isso, ainda não significa que o jogo será uma caminhada tranquila. Mais do que deveria, o jogo vai atirar verdadeiras armadilhas, por vezes destruindo o jogador sem que ele tivesse a menor chance de se defender na primeira vez. Parece arrasador e, honestamente, é, por motivos que iremos explicar em instantes; no entanto, existe um lado positivo para isso. A cada morte sofrida, o jogador aprenderá um novo detalhe daquilo que o fez cair. Logo, ao tentar novamente, ele terá aquele novo conhecimento e poderá utilizá-lo em sua vantagem, uma estratégia estranhamente efetiva. Inúmeras vezes me vi salvando o jogo e, frente ao que parecia ser uma batalha perdida sem o preparo ideal, me atirei logo na vanguarda para extrair o máximo de informação possível do inimigo, sem me preocupar em me defender apropriadamente, justamente para saber o que funcionava, o que não funcionava e o quanto eu aguentaria antes de finalmente bater as botas.

Ao apresentar essa estratégia suicida, acredito que alguns possam então se perguntar qual é a real dificuldade do jogo se é possível aprender tanto nas batalhas para que um segundo, até terceiro, encontro possa ser diferente. A resposta está na penalidade por cada derrota.
Ao morrer em Dark Souls, o jogador perde todas as souls que tinha acumulado até aquele ponto. Isso significa que as souls que você não usou para melhorar seu personagem ou comprar itens serão perdidas. No entanto, há uma forma de recuperá-las: basta retornar ao ponto onde você foi derrotado e pegá-las novamente; dito isso, morrer antes de recuperar as souls significará que você as perderá indefinidamente, tendo a opção de recuperar as que você perdeu mais recentemente apenas. Isso é devastador quando se acumula uma grande quantidade de souls e você percebe que as perdeu indefinidamente. Não é como se fosse terrivelmente difícil acumular uma quantidade similar, mas, o sentimento de derrota por vezes é predominante independente de tudo.

É especialmente frustrante perder para um chefe por conta disso. Recuperar as souls perdidas torna-se uma tarefa complexa quando, além de ser necessário correr até elas, é preciso derrotar o chefe se você quiser sair com todos os ganhos. Perder duplamente para o chefe é duplamente triste, inclusive.

Os chefes em Dark Souls são, claramente, os traços mais marcantes do jogo. Não só esses estão dentre os únicos momentos em que você ouvirá música, como, também, cada batalha é um verdadeiro teste de habilidade, gerenciamento de recursos e... Paciência...
A boa maioria dos chefes conta com uma grande dose de desafio, mas, existem aqueles que simplesmente não fazem sentido e acabam partindo para o lado barato da dificuldade, discutido anteriormente. A pior parte é que o terceiro chefe do jogo já entra nessa regra, sendo absolutamente cruel para novos jogadores. O grande problema aqui é que esses chefes contam com desafios que o jogador foi ensinado, desde o começo do jogo, a evitar. Inimigos em números, por exemplo.

Do outro lado, no entanto, existem chefes que podem ser inacreditavelmente fáceis, mais ainda do que os primeiros chefes, diga-se de passagem. Por vezes, isso acontece por algumas estratégias que simplesmente não deveriam funcionar, mas que funcionam. Por outras... Bem... Pinwheel, e vamos deixar assim.

O chefe está soltando um gás venenoso que era para me acertar. Como estou atrás de um pedestal de concreto de meio metro, aparentemente não preciso respirar.

Existe bem mais que pode ser discutido sobre Dark Souls, mas, o objetivo desta postagem é introduzir, não analisar. No geral, creio que é possível dizer: o jogo é bom, bem difícil em alguns pontos, e tem uma jornada digna de seu tempo (assumindo que você dedique-se a ele para início de conversa).

Por que fãs de Zelda gostariam desse jogo?

A mitologia que Dark Souls proporciona é completamente diferente da de Zelda. Não há o otimismo nem as cores do mundo de Hyrule, optando mais por algo sombrio, sem vida, já desiludido. Por vezes, essa diferença de ritmo é bem-vinda.

Para os fãs de Zelda, eu recomendo fortemente que, caso não queiram nem experimentar o jogo, apenas deem uma olhada. Creio que esse tipo de aventura é bem interessante, apesar de seus poucos tropeços, e ela mostra que o gênero de Fantasia pode ser muito diferente daquilo que geralmente imaginamos. Digo que fãs de Zelda gostariam desse jogo para expandir seus horizontes, ver coisas novas e, olha só, se colocar no lugar de alguém sem uma Espada Mestre e um escudo indestrutível de seu lado.
Por incrível que pareça, essa mudança de perspectiva faz maravilhas.

Ainda mais agora com a possibilidade de a franquia que Dark Souls criou dar as caras no vindouro Nintendo Switch. Ei, dedos cruzados aqui!

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