domingo, 11 de janeiro de 2015

DdUdH: Como fazer um bom filme de Zelda (OPINIÃO)

Quando se fala de um filme de Zelda, a reação mais comum é uma torcida de nariz. Apesar de existirem pessoas que acham que um filme (em formato de animação, principalmente) seja uma excelente ideia, a maioria acha que isso seria abismal.
Eu sei que alguém já pensou nessa ideia, e pensou em fazer algo a respeito. O resultado... Bem... Eu vou deixar vocês para dizer como isso se sairia.



Fazendo uma análise breve e simples, dá pra entender o porque de ser tão ruim assim. Em jogos de Zelda, o que o jogador faz é ir de um lugar a outro, explorando templos antigos e pegando artefatos mágicos. A pior parte é que o protagonista está sempre sozinho. Não são todas as vezes que o seu companheiro vai falar, e, de boa, se fosse o caso, seria muito chato. Essa fórmula funciona para videogames, sim... Afinal, nos videogames você controla o personagem, decide onde ele vai e coisas do tipo.

Agora, imagine um filme em que tudo o que você vê é um cara indo de um lado para o outro, sozinho, e em silêncio... Todos nós sabemos que isso seria um porre. Eu ao menos ficaria furioso com um filme assim...

No entanto, dizer que o Zeldaverso não tem potencial para ir a outras mídias seria um absurdo sem tamanho. Da forma que eu vejo, dá pra levar Hyrule às telonas com relativa facilidade; o truque é que você tem que saber o que levar.



Pensando nisso, eu fiz uma pequena lista de formas que um possível filme da série pode usar para ter relativo sucesso, ou, ao menos, ser aceitável. No caso, eu vou citar dois elementos importantes e que DEVEM ser lembrados na hora de fazer um filme, isto é, as nossas regras de ouro. Vou lembrar que essas regras, apesar de parecerem definitivas, estão mais para recomendações. Eu as chamei de regras de ouro para dar mais dramaticidade e autenticidade ao artigo (porque eu sou assim: uma complicada dor de cabeça).

Sem mais delongas, veja as duas regras!

- Link não pode ser o protagonista do filme (pelo menos não o único)

Não, você não leu errado. Eu acho que se colocarem o Link como o protagonista, tenho certeza que tudo vai direto pro ralo. O motivo é simples, e eu já listei acima: o filme seria tedioso pra caramba. Mas, aí, você diz: "Ora, então faz o Link fazer outra coisa!"
Se fosse assim, quantas pessoas iam dizer que nada tem a ver com Zelda e que o personagem foi descaracterizado? Cara, se você vai fazer um filme com uma figura élfica andando por aí, guerreando contra sei lá o que, ou conversando direto, faça um spin-off da obra de Tolkien...
Além disso tudo, tem o fato de que o herói é, geralmente, o último recurso, visto que ele só aparece quando as coisas vão de mal a pior. Essa é a razão do símbolo do herói ser tão especial: ele não é pra aparecer o tempo todo. Pensando nisso, por que não mostrar um evento em Hyrule que não precisa do aparecimento do herói?
A série Zelda está cheia de momentos assim, e podemos listar alguns deles agora:

. A guerra do selamento;
. O selamento dos Twili
. A queda de Lorule
. O grande dilúvio (pré-Wind Waker, não estou falando da Bíblia).
. A ascenção do Ganondorf
. As aventuras de Linebeck e várias outras coisas...

Mas é aquela, você quer manter o herói no seu filme, né? Tá doido pra ouvir as reações da platéia quando ele aparecer, né? Então, faz um cameo, que nem...
Vocês com certeza já viram um vídeo fã chamado The Skull Kid. Nesse curta-metragem é explicada a origem do vilão de Majora's Mask, de maneira bem estilosa e com uma narrativa surpreendente para um trabalho de fãs. Sabe qual é a melhor parte? O herói só aparece lá no finalzinho, justamente para trazer os créditos finais. Isso eleva a importância dele lá nas alturas. Você pode conferir o vídeo, maravilhoso, aqui:



Mas, não, você quer que o Link apareça e seja uma parte importante de todo o filme, não é? Tudo bem, então... Mencione através de flashbacks ou coisa assim... Mas, se você quer mesmo ele no filme e não tem outro jeito, senão alguém vai te matar, existe outra solução, mas bem arriscada em minha opinião.
O Link pode aparecer como protagonista, mas, por tudo que é mais doce e salgado, NÃO pode ser o único. Tem que existir algo a mais para que o foco não fique só no herói. Em outras palavras, tenha pelo menos outro protagonista na história.

Isso lembra uma ideia que o grupo The Game Station teve em 2012: misturar Zelda com filme de faroeste. O resultado ficou muito bom, e apresentou justamente esse modelo que eu estou defendendo! Você pode conferir um trailer da produção abaixo, e eu colocarei os links para os três episódios no final do artigo:



Outro vídeo que pode interessar nesse aspecto foi o projeto fã PAST AND PRESENT, um vídeo em animação que mostrava Link e Sheik, sendo aquele o que mais aparece dos dois. Estou mencionando logo esse vídeo porque eu SEI que alguém vai mostra-lo para nós e dizer: "Olha, tá aqui um exemplo de como um filme com o Link pode funcionar!".



Não tem nem pra onde correr... É uma animação excelente e tudo mais, e, pelo que ele quer, ela realmente funciona. Mas, temos um pequeno problema: isso se trata de um curta-metragem, que seria parte de uma série maior. Assistir vídeos como esse funcionam justamente por causa disso. Agora, imagina ficar assistindo algo nesse ritmo por uma hora e meia... Eis o nosso impasse.
Além do mais: a Sheik ainda aparece pacas pra dar uma ajuda em termos de diálogo. Esse vídeo ainda merece um artigo todo pra ele, e talvez façamos isso no futuro. Mas, por enquanto, vamos voltar à nossa realidade.

A propósito... Isso nos leva à próxima regra de ouro.

- Adicione, invente, mas jamais traduza.

Essa é bem simples, na verdade. Não transformar os enredos dos jogos diretamente em filme é óbvio. A razão porque eu digo isso vem da terrível mania que o povo tem de sair por aí fazendo essas traduções diretas. Não vou dizer que é 100% porcaria, mas as chances de falhar são muito grandes, e existe um motivo para isso: cada um tem sua própria percepção de cada jogo; é um dos pontos legais de Zelda. Colocar uma adaptação direta do enredo de, por exemplo, Twilight Princess, seria uma afronta pra muita gente, especialmente quando você leva em conta que eles iam tentar dar uma personalidade mais forte, talvez até falas, para o Link. E ainda tem isso: violaria legal a primeira regra, porque ia ser só o Link correndo de um lado para o outro. De fato, teria a Midna para falar alguma coisa com ele e tudo, mas passar o filme inteiro vendo os dois mesmos personagens... Seria bem... Ugh...

"Como um filme de Twilight Princess funcionaria, então?", você pergunta. Me mostre algo como o que aconteceu com os sequestrados da vila de Ordon antes do Link chegar? Seria interessante mostrar como a Ilia perdeu a memória (porque eu tenho certeza que você não fica com amnésia depois de levar uma flechada bem longe da cabeça), e coisas assim... Sei lá, até uma prequel, mostrando o Zant chegando ao poder, seria bacana. São todos elementos do jogo, mas que não fazem parte do enredo dentro do jogo.
Se for necessário mostrar algum evento do jogo, como na ideia da Ilia, que seja adaptado, mas com muito cuidado...

Com tudo isso dito, eu ouso dizer que uma das melhores coisas que poderiam fazer era trabalhar com conteúdo novo, ambientando novos personagens e histórias dentro de Hyrule. Digo isso porque minha memória me fez o serviço de trazer à tona alguns curta-metragens com personagens de Zelda que são espetaculares. A sua qualidade é um ótimo argumento a favor da utilização de conteúdo original para produzir um possível filme de Zelda.

E mais, se utilizando de ideias originais, é possível escapar de algumas "regras" que existiriam caso uma adaptação mais direta acontecesse. Em outras palavras, os fãs de Zelda não teriam como sair reclamando de algo que não consta nos jogos e está livre para interpretações diferentes.
Em outros termos, como as histórias não terão que se prender, exatamente, exclusivamente aos temas que vemos com frequência nos jogos, elas podem ser exploradas de diferentes formas com muito mais liberdade.

Acho que a melhor forma de falar isso seria: "faça um spin-off em formato de filme". Esse é outro ponto muito positivo: não haveria necessidade de se preocupar em ser exatamente cânone com a longa história de Zelda. Claro, existem os elementos que não podem faltar, assim como aqueles que não podem ser mudados, mas haveria muito, MUITO espaço para criar e tentar trazer algo de novo. No mínimo, seria uma ótima forma de ver como a franquia se estabeleceria no mundo do cinema e como seria a reação geral (desde que fosse deixado MUITO claro que se tratasse de um spin-off).
Dependendo de como as pessoas reagiriam aos personagens e ao enredo (que teria de ser muito bem feito), dependendo de como tudo saísse, muitos dos paradigmas que apresentamos aqui poderiam ser ignorados e algo bem maior poderia rolar. Deixe-me tentar mostrar um "exemplo":

Imagine que seu filme foi ao ar. Você conta a história de... não sei... como o rei de Hyrule se tornou o rei, e os confrontos dele para, sei lá, salvar o povo de Hyrule de alguma ameaça iminente (sem ser Ganondorf). O rei se esforça, e faz o possível e salva o povo. Todo mundo começa a aplaudi-lo e ele passa a merecer a sua coroa.

Se as pessoas assistissem esse filme e pirassem, ficassem super animadas e tudo mais, aí seria possível arriscar. Como, você pergunta? Diga que o rei teve uma filha, e chame-a de Zelda. Apresente um tipo diferente de inimigo, mostre uma ameaça que faça o rei ter não seu reino, mas sua filha correndo perigo. Veja o que sai disso aí.

Reação positiva? Introduza Ganondorf. Faça dele o mais perigoso de todas as ameaças. Monte uma história que deixaria meio-mundo de queixo-caído ou, pelo menos, satisfeito. Seja provocante aqui: comece a ousar, mas não deixe que isso lhe suba a cabeça. Seja ousado, sim, mas não abuse. Pare o filme com a promessa de mais, de que o mal está muito bem vivo.

Se as pessoas aceitarem a trama, mande uma "parte final", trazendo um pouco mais de suas ideias, mas deixando o vilão sempre como uma ameaça real e constante (Ganondorf vira Ganon, por exemplo). O rei tem que se ver encurralado. Somente nessa situação, pode surgir o Herói de Hyrule. Quando eu digo isso, eu quero dizer o Herói no seu status de herói, já. Antes disso, você pode colocar um personagem que começa pequeno, e que vai ganhando importância ao longo do enredo, tornando ele no herói ao final de tudo.

Isso que eu escrevi seriam ideias muito, muito cruas para uma quadrilogia de filmes, e elas mostram, pelo menos ao meu ver, uma boa forma de tratar a série no cinema. Você deve ter notado que, em várias vezes, a reação pública extremamente positiva é um sinal para continuar indo. Apesar de parecer óbvio, eu apenas estou querendo mostrar que a ousadia deve ser tomada com muito cuidado, por mais estranho que isso possa soar. Jamais mostre todo o seu baralho no começo do jogo, sempre tenha algo guardado debaixo da manga. Isso não significa um plot-twist, e sim, que você deve estar preparado para qualquer situação.
A indústria de cinema não é como a de videogames, é preciso ser bem mais cuidadoso nela.

Isso tudo e ainda temos que considerar que a fama de filmes baseados em jogos é péssima! Por isso, de novo, o cuidado é tão importante.

E essas são as duas regras "importantes" que devem ser consideradas. Eu já estou começando a ficar repetitivo, então vou parar por aqui. Na verdade, eu estou curioso para saber o que vocês acham disso tudo. Será que fazer um filme da série seria mesmo uma boa ideia? Ou será que seria um erro terrível?

Talvez a série Zelda não esteja pronta para receber um longa-metragem... Mas eu sei que ela já provou ser excelente para centenas de curtas, alguns dos quais nós mostramos aqui! Deixarei o link para alguns deles (além de outros projetos fãs incríveis) abaixo.

- Para ver mais (todos os vídeos abaixo estão em inglês, com exceção dos dois últimos [que não tem diálogo algum]. Ainda assim, valem a olhada só pelo esforço das pessoas que trabalharam neles):

- Majora's Mask Opera

- Zeldamotion

- A fistful of rupees
Parte 1
Parte 2
Parte 3

- Link's Triumph

- Link's Shadow*

*: Eu queria ter colocado esse vídeo, ou ao menos ter mencionado-o, no artigo. No entanto, não consegui encontrar nenhuma boa oportunidade para usá-lo. Acho que vale dizer que ele representa muito bem o mundo de curtas de Zelda que temos por aí, e que alguns elementos tiveram de ser adicionados para não deixar que fosse só a luta, isso trata das limitações às quais eu me referi antes.

P.S.: Gostaria de me desculpar pelo tamanho colossal do artigo! Acho que ficou um pouco fora de controle. De todo jeito, eu agradeço se você leu tudo até o final. Mas, bate a pergunta, como seria um bom filme de Zelda? Eu já pensei em várias ideias, mas nenhuma parece que seria boa! Será que alguém, algum dia, vai ter uma ideia boa pra lançar?! ~música de mistério~

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